Outubro de 2024, Fiz as Pazes com o Digital

Durante quase 14 anos, vivi imersa no mundo digital. Trabalhar online, expor ideias e estar presente de forma constante tornaram-se partes fundamentais da minha vida. Mas, tal como qualquer relação intensa, chegou um momento em que o peso começou a acumular-se.

Na pandemia, quando o mundo foi empurrado para o digital, algo dentro de mim mudou. O "boom" de pessoas online trouxe uma nova energia, mas também um cansaço inexplicável. Era como se, de repente, tudo estivesse saturado — histórias de desespero, vulnerabilidades expostas sem filtro e conteúdos mal cuidados. Comecei a sentir que o digital, que antes era o meu espaço de criação e inspiração, tinha-se tornado uma fonte de exaustão.

Em Agosto de 2023, decidi tentar uma última vez. Apareci em vídeos, publiquei fotos… mas a verdade é que já não conseguia. Não era genuíno, não era leve. Era como forçar uma amizade que já não fazia sentido. Então, desliguei. Quase um ano praticamente sem mostrar a minha cara nas redes sociais, sem criar conteúdos novos.

Foi um ano de silêncio. Mas, nesse silêncio, encontrei clareza. O digital não era o problema — a minha relação com ele é que precisava de espaço para se reajustar. Era necessário redefinir o que o digital significava para mim, perceber como podia usá-lo como uma ferramenta ao meu serviço e não como uma carga.

E foi isso que aconteceu. Lentamente, o "tem de ser" transformou-se em "quero que seja". Redescobri o prazer de criar com intenção e qualidade, de partilhar o que faz sentido e de reaproveitar a força do digital para amplificar ideias que ressoam comigo. Fiz as pazes com o digital.

Hoje, volto com outra energia. Não é uma reconciliação forçada, mas sim uma escolha consciente. O digital é novamente um espaço de criação, de ligação e, acima de tudo, de autenticidade.

Se estás a ler isto e te identificas com esta sensação de sobrecarga digital, deixa-me dizer-te: às vezes, afastar é o melhor caminho para voltar.